Editorial
Crítico da politicagem, Bolsonaro dá exemplo do que não fazer em meio à crise do Covid-19
“Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”
Não há neste momento, talvez, uma melhor definição para a figura do presidente Jair Messias Bolsonaro.
Dono de um discurso incisivo que arrebanhou a maior parte do eleitorado válido do Brasil nas eleições em 2018, o chefe de estado tem dado exemplo do que não se deve fazer em meio à crise do Covid-19.
Do discurso de “gripezinha” à iminente demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, passando pelos cansativos (e desnecessários) ataques à imprensa, Bolsonaro faz uso de um artifício que, durante sua campanha até o Planalto, tinha prometido que não faria: politicagem.
Todos os passos de Bolsonaro na crise do Covid-19 são de extrema politicagem. Demitir Mandetta, é o maior ato politiqueiro deles.
E antes de continuar, deixo uma pergunta: qual o crime cometeu Mandetta para ser demitido durante à epidemia?
O até então Ministro tem sido, talvez, a única figura do atual governo que parece ser unanimidade na já dividida nação brasileira. E talvez isso incomode Bolsonaro.
Mandeta virou unanimidade por usar algo que falta (ou que se tem demonstrado faltar) ao presidente: habilidade.
Um líder habilidoso é capaz unir forças em meio à guerra, por usar armas como sensatez, humilidade (até isso acusaram o ministro de não ter) e responsabilidade.
Todas essas armas parecem não estar sendo usadas por quem realmente deveria.
Ao invés disso, se usam armas como “não tenho medo de usar minha caneta”, “a hora dele vai chegar”, e por ai vai.
A grosso modo, imagine a seguinte cena: amigos jogando bola. Vários deles jogam bem. Mas o dono da bola, não é lá grandes coisas como jogador. Mas é o dono da bola. E mimado. O dono da bola é o último a ser escolhido na formação dos times. Fica bravo. Vai embora, leva a bola, e não tem jogo.
Bolsonaro parece a criança mimada que não aceita ser contraridada pelos amigos. E ao demitir Mandeta, deixa um recado claro: se me contrariarem, vocês ficam sem a bola.
Mandetta contrariou o dono da bola. Ficou sem a bola. E nós, sem um craque.