Ligue-se a nós

Destaque

Que chuva, hein?

Publicado

no

Quem diria, sem ser conhecedor da história e dos costumes, que na idade média era normal que homens adentrassem ao interior de suas casas montados em cavalos, e mais, que esse era um costume dos nobres? Esse povo tinha cada uma …

 

Prólogo – Todos conhecem a passagem bíblica da Arca de Noé (se fábula, parábola ou história, depende da crença de cada qual), aquele enorme navio construído a mando de Deus, cuja função seria a de salvar do Grande Dilúvio, além do próprio Noé e sua família, um casal de cada espécie de animal. Agora, dá para imaginar o tamanho da encrenca que o pobre do Noé arranjaria se tivesse que fazer isso nos dias de hoje?

 

Capítulo 1 (O meio ambiente) – Em tempos de preservação das florestas, Noé tenta conseguir madeira nobre, boa o suficiente para construir um navio de qualidade e grande o bastante para sua empreitada, mas está difícil. Madeira certificada, legalizada e ainda por cima nobre, é coisa rara. E o pior acontece: uma ONG faz a denúncia de que duas tábuas usadas na arca não são certificadas. Apurada pelo Ministério Público, a denúncia se mostra verdadeira e então, embora gente boa e temente a Deus, Noé é multado e processado sem dó, por crime ambiental.

Considerando a força do Padrinho, se safa do processo e ainda consegue ficar com a madeira, mas isso não significa o fim dos problemas.

 

Capítulo 2 (Agora vai … ou não) – Mesmo esforçado e de boa-fé, nosso construtor naval não dá conta de realizar tamanha empreitada sozinho. A solução? Contratar gente.

Plaquinha de “Admite-se / Falar com Noé” colocada em local estratégico e logo uma centena de trabalhadores está a postos. Problema resolvido? Nem tanto.

Ainda no primeiro dia de trabalho, ao bater o sino do almoço a confusão começa e aquele predestinado se vê, novamente, envolvido em problemas mundanos que, ao que tudo indica, não aconteceram na época do dilúvio: os trabalhadores, ao tomarem conhecimento que não receberiam ticket refeição e nem vale transporte, iniciam uma greve que, anunciada nos noticiários, traz manchetes do tipo “Trabalho escravo no Paraíso”. Após muito “deixa disso” e nova interseção Dele, Noé se livra de uma cadeia brava e, depois de prestar serviços comunitários, volta a sua querida arca para começar a reunir os animais.

 

Capítulo 3 (Vamos entrando) – Vacinado e agora temente também da burocracia, antes de continuar sua missão Noé pede autorização ao Ibama e, finalmente, os bichos começam a entrar: águia, asno, zebra (sem essa de ordem alfabética; quem chega primeiro entra), periquito, leão, macaco, camelo, hiena, cobra, … e assim vai até a tartaruga, panda e por último, claro, o casal de bicho preguiça.

Depois dos preguiças chega a vez dos humanos e então Noé, sem imaginar o que estava por acontecer, põe a família para dentro. Depois, olhando para o céu cheio de nuvens carregadas murmura – A hora está chegando.

 

Epílogo– Noé já recolhia a prancha de acesso a arca quando, ao longe, avista um homenzinho de terno e óculos correndo em sua direção. Como o homenzinho gritava “Para! Para!” sem parar, Noé parou. Para que?!

O oficial de justiça se apresenta a Noé e entrega a ele cópia da liminar determinando que a arca não seja fechada até que o Supremo Tribunal Federal decida, no mérito, se os seres humanos estão realmente representados pela família do Noé ou se seria o caso de arbitrar cotas para indígenas, italianos, afro-descendentes, asiáticos, casais homossexuais, anões, loiras inteligentes e outras noventa e duas minorias.

Enquanto o homenzinho pega a assinatura de um Noé desolado, gotas de chuva começam a molhar a intimação …

 

José Carlos Botelho Tedesco (Alemão Tedesco) é advogado e mora no Oeste Paulista /
e-mail: zeum@uol.com.br /
Facebook: Alemão Tedesco e Alemão Tedesco II /
Twitter: @alemaotedesco.

Continuar Lendo
Publicidade
Clique para comentar

DEIXAR UM COMENTÁRIO

Política de moderação de comentários: A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro ou o jornalista responsável por blogs e/ou sites e portais de notícias, inclusive quanto a comentários. Portanto, o jornalista responsável por este Portal de Notícias reserva a si o direito de não publicar comentários que firam a lei, a ética ou quaisquer outros princípios da boa convivência. Não serão aceitos comentários anônimos ou que envolvam crimes de calúnia, ofensa, falsidade ideológica, multiplicidade de nomes para um mesmo IP ou invasão de privacidade pessoal e/ou familiar a qualquer pessoa. Comentários sobre assuntos que não são tratados aqui também poderão ser suprimidos, bem como comentários com links. Este é um espaço público e coletivo e merece ser mantido limpo para o bem-estar de todos nós.