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São Paulo vai construir a primeira usina do Estado para transformar água do mar em água para beber
Um município cercado por água é também a cidade onde os moradores têm, proporcionalmente, o menor acesso a abastecimento adequado de água no Estado de São Paulo.
Ilhabela, no Litoral Norte paulista, é um paraíso distribuído em 19 ilhas — um dos poucos municípios brasileiros instalado num arquipélago. A beleza das praias faz com que a população de 35 mil habitantes seja multiplicada por 20 durante a temporada.
É nesse período que o serviço de distribuição ausente para 6,56% dos moradores é mais percebido por gente de todo o país que busca sol, praias e uma mata exuberante.
Para minimizar o problema, a Sabesp publicou um edital para empresas interessadas em construir uma usina de dessalinização em Ilhabela.
A construção será erguida nas margens do Ribeirão Água Branca — um curso de água salobra visível perto da balsa e que avança a ilha por cerca de 1 quilômetro.
Depois de pronta, a usina deve captar 40 litros de água salgada por segundo, além de processar e liberar pelo menos 20 litros por segundo de água potável para 8 mil habitantes do município — número que representa quase um quarto da população.
O edital prevê que a tecnologia empregada “será necessariamente de osmose reversa, precedida de pré-tratamento por ultrafiltração ou outra tecnologia com eficiência equivalente ao propósito da solução e comprovada pela empresa proponente”.
A osmose reversa é um processo no qual é aplicada alta pressão a um volume de água do mar. A água passa através de uma membrana e se obtém água limpa sem que partículas de sal fiquem presas no outro lado da membrana.
Depois de retirado o sal, a água passa por um tratamento de remineralização e está pronta para o consumo humano. Já a salmoura resultante do processo é diluída – para evitar concentrações de sal – e devolvida ao ponto de captação.
Para o coordenador da Câmara Técnica Nacional de Dessalinização e Reuso de Água, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária, Renato Giani Ramos, o trabalho com diferentes recursos é importante para o equilíbrio da matriz hídrica.
“É interessante a gente começar a tratar da diversidade da matriz hídrica. Alguns anos atrás tivemos uma escassez hídrica muito grave aqui em São Paulo. Então, se a gente começa a trabalhar melhor com diferentes recursos e não só extrair de lençóis freáticos, de águas superficiais, mas também conseguir extrair água potável do mar, a gente consegue ter esse equilíbrio da matriz hídrica”, afirmou.
“Quando um recurso está mais escasso, você tem mais abundância do outro e você faz esse equilíbrio. É o que o país faz hoje já com energia elétrica”, completou.
A Sabesp defende a construção da usina de dessalinização porque a quantidade de água dos mananciais em Ilhabela é limitada.
“Apenas o córrego da Laje teria condições de fornecer água na vazão desejada, porém a um custo ambiental e institucional elevado, resultando em um tempo de empreendimento muito longo em face da urgência que se faz necessária”, afirma o edital divulgado pela empresa.
Ainda de acordo com o documento, os interessados têm até o dia 25 de junho para apresentar propostas. A previsão inicial é que a usina seja implantada em 2026.
A empresa vencedora da concorrência também terá que construir um centro de educação ambienta, com auditório, painéis fotovoltaicos e altura máxima de 8 metros, numa área total de 280 metros quadrados.
O que diz a Prefeitura
A Prefeitura de Ilhabela se queixa da qualidade do serviço da Sabesp e ameaça romper o contrato, renovado por mais 30 anos, em 2020, na gestão anterior.
Foi justamente neste novo contrato que entrou a previsão de construir uma usina de dessalinização. O atual prefeito, Toninho Colucci (PL), afirma que a usina será construída mesmo se o contrato com a Sabesp for interrompido.
“Nós temos recursos de royalties (do petróleo) e esses recursos vão garantir esses investimentos tão importantes para a cidade e para a região”, afirmou.
Foto: Divulgação/Prefeitura de Ilhabela
Fonte: G1